sábado, 19 de março de 2011

Um tipo inesquecível : Seu Júlio

     Com sua longa barba grisalha, suas roupas rotas, Seu Júlio era um velhinho que parecia um personagem saído do livro As Mais Belas Histórias. Sua casa quase na esquina da Jovino Dinoá com a Av. Feliciano Coelho, em frente ao Cine Paroquial em Macapá, era um misto de residência e oficina, onde ele fabricava suas vassouras de cipó titica, peneiras, gamelas e escorredores de pratos em madeira.
     Quando o via passar com sua acentuada corcunda, carregando sobre os ombros suas vassouras, que ele vendia de porta em porta, eu sentia um misto de dó e ternura, por aquela figura tão frágil, de ar tão sofrido.
     Mamãe parecia se enlevar pelo mesmo sentimento, além de comprar os seus produtos, uma vez por mês ela lhe presenteava com uma garrafa de vinho barato, sempre recomendando, que ele tomasse só uma pequena dose por dia, que lhe faria bem ao coração. Foi também mamãe que nos ensinou a chamá-lo de Seu Júlio e não de Velho Babugem, como a molecada da rua o apelidava.
UM OUTRO JÚLIO
     Nos anos 80, quando já morava em Belém, conheci outro personagem que me fez lembrar do Seu Júlio. Era um homem que amolava alicates e tesouras. Quando fui na sua casa/oficina, localizada na Av. Conselheiro Furtado, ao lado da Igreja dos Capuchinhos, encontrei uma espécie de museu da pessoa: muitas tralhas, móveis velhos e, o que me chamou mais a atenção e ficou fortemente gravado na minha memória: as paredes eram forradas por folhas de jornais que traziam fotos de Rainhas das Rainhas de todos os tempos, soberanas do tradicional concurso de fantasias do carnaval paraense. 
 
Rainha das Rainhas dos anos 70
     
     Dentre as fotos uma que mostrava a rainha Flora e, uma espécie de vice soberana, chamada Beatriz. Ambas posavam na escada do farol da Fortaleza de São José de Macapá. Naquele exato momento, aquela foto me fez sentir saudades de casa, saudades da minha Macapá, e da infância, quando ir ao nosso mais importante patrimônio cultural, era um delicioso e aventureiro passeio, driblando os guardas, para atirar pedra nas mangueiras, ou colher goiabas das árvores existentes no alto do forte.

Fontes das Ilustrações:
Corcunda - do blog http://aditaeobalde.blogspot.com/2009_05_01_archive.html
Fotos rainhas: site da ORMN Rainha das Rainhas 2009

2 comentários:

  1. Além do seu Júlio, na nossa infância lembro de outros tipos inesquecíveis: Seu Abel, cavador de poço(que eu morria de medo), o pipoqueiro Camarão Frito,D. Eugênia(lavadeira de roupa),a Crioulinha pra chuchu e a matinta Pereira, que a molecada mexia com ela quando passava.Bjs!!

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  2. D. eugênia! Eu já nao lembrava o nome dela , mas tem um episodio da vida dela que pra mim é inesquecivel. Qualquer dia escreverei sobre isso.

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Por onde andou seu coração?