quarta-feira, 13 de abril de 2011

Hirondelles do Cearense

 Nos anos 70, uma viagem ao município do Amapá, a 302 km de Macapá, era uma longa viagem por uma estrada sem asfalto, muitas pontes mal conservadas e uma travessia de balsa sobre o Rio Araguari, em Ferreira Gomes. Sem ônibus, o transporte de passageiros e cargas era feito em caminhões, os chamados paus-de-arara. Na atualidade o deslocamento de Macapá até o Amapá faz-se em aproximadamente cinco horas de carro, utilizando-se as BRs-156 e 210.

Fonte: blognews.blogspot.com

     Em 14 de março de 1970, um avião hirondelles, da PTA-Paraense Transporte Aéreo (Pobre Também Avua, no dizer popular) caiu na baia de Guajará, em Belém. Acidente no qual morreu o músico-comediante nordestino Coronel Ludugero . 
     Foi nesse mesmo ano, que na companhia de minha tia e madrinha, professora Cezaltina Lima, fiz uma viagem no “Hirondelles do cearense”. Esse foi o apelido dado ao caminhão dirigido pelo Sr. Hélio Abreu, nosso vizinho no bairro do Trem, um cearense de andar empertigado, pele muito branca, olhos claros e pescoço vermelho, o que lhe valeu o apelido de “Galo Teso”.
     Quando minha madrinha acertou a viagem, seu Hélio fez questão de reservar a boléia para nós duas. Viajar na boléia do veiculo era o mesmo que ir de primeira classe. Mas na hora do embarque, quando viu que junto aos seus pés estaria a bateria do carro, com fios expostos, titia desistiu da 1ª. Classe. Apesar da insistência do motorista, ela preferiu viajar na carroceria.

     Não tínhamos escolhas, tipo as oferecidas pelos guias de bugres de praia do nordeste: - com ou sem emoção? Ali era sempre com muita emoção e tensão, principalmente quando chovia e a estrada sem encascalhamento, tornava-se altamente escorregadia e perigosa.
    
Naqueles dias a tensão era maior ainda, uma vez que semanas antes, um caminhão perdera os freios e caíra no rio Araguari, com carga e passageiros; e a tragédia do hirondelles ainda era motivo de comentários.
Fonte: pelasruasdebelem.blogspot.com

Imagem extraida de: http://www.iguatu.org/
     O caminhão começou a apresentar problemas antes mesmo de sair de Macapá, o temor maior era a chegada à íngreme ladeira do Tartarugalzinho e a tal travessia em Ferreira Gomes. Mas não foi nenhuma coisa, nem outra que nos levou a grandes emoções. Cochilava recostada em uma saca de farinha, quando acordei com gritos de: - fogo! fogo!
     Só o instinto de sobrevivência para explicar a descoberta que fiz naquele dia: no hirondelles do cearense, pobre também avuava. Em segundos voei pra fora do caminhão que pegara fogo justamente na boléia.
Crônica 4 da Série – Macapá de minhas lembranças – versão 2011

Um comentário:

  1. Ainda lembro com pesar do dia em que o Hirondeles caiu na Baia de Guajará em Belém..!

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