segunda-feira, 4 de abril de 2011

O salvador que se salvou

     A casa dos tios Lulú e Mundinha, no município de Amapá era o lugar preferido para as férias de todos os primos da família Borges. O casal não tiveram filhos, mas perderam as contas de quantos afilhados, dentre eles Nazaré, quase uma filha adotiva.

     Não fui muitas vezes ao Amapá, mas são muitas as lembranças e histórias, desde a primeira viagem, quando eu tinha cinco anos. Fomos de avião até à Base Aérea e de lá a travessia numa canoa, que me causou trauma de infância.
(primeira viagem que eu me lembro , pois antes disso já tinha ido com minha madrinha, mas não lembro da viagem!)

Foto:Elcias, RioMadeira-RO
     Quando o primo Ivanildo nos pegou no colo para colocar na canoa, ela balançou de um lado pra outro e eu gritei aterrorizada. Desde então o medo de viajar de embarcação me perseguiu, e só largou de mim quando vim morar em Rondônia e tive que encarar o Rio Madeira.
A maior atração da casa dos tios era o quintal com suas árvores frutíferas, mangueiras e jaqueiras.  Certa vez, eu e Nazaré, ávidas por comer jaca, pegamos uma fruta ainda verde e a cortamos com um canivete suíço legitimo do tio. Não teve como esconder o resultado: o leite expelido deixou o canivete todo pegajoso, feito cola.
     Depois da bronca, o castigo era não ir brincar no quintal. Foi assim que eu, então com 10 anos, descobri onde meu tio escondia o tesouro por mim mais cobiçado, os seus livros. Ele os guardava debaixo da cama, eu os pegava e lia escondido, um deles tinha o título: O Salvador que não se salvou.
     Certa tarde, eu estava no pátio da casa quando chegou um rapaz para devolver dois livros que pegara emprestado. Ele perguntou se meu tio teria outros, mas este negou dizendo que não tinha mais nenhum.
     Eu que acompanhava a conversa, corri lá dentro e fui buscar o livro que eu lera escondido e mostrei-o para o meu tio, que não teve jeito senão emprestá-lo para o rapaz.
     Salvo pelo gongo de não voltar de mãos abanando, o rapaz foi embora todo contente dizendo: o Salvador que se salvou!
     Depois que ele se foi, eu levei a maior bronca de meu tio. Na minha ingenuidade, não havia percebido que meu tio mentira porque não queria emprestar livro algum para o rapaz.

2 comentários:

  1. Mana, ainda trago na memória esta viagem, o avião, a canoa e uma rural, mas não tenho a lembrança de ter ficado com medo. Lembro das nossas roupas - short de tecido quadriculado.Ah! Sei lá se era mesmo, mas eu acho que sim! Bjs!!

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  2. nana, nina , não ! Da roupa eu lembro bem , eram as nossas saias de pregas do uniforme do Bartoloméa. O periodo letivo tinha acabado, e já sabiamos que não voltariamos para o colégio, o uniforme estava liberado para ser usado como traje de passeio. Quer dizer , até ontem eu tinha certeza disso, mas agora me pergunto se a tua memória não está melhor que a minha , e tinhamos mesmos uns shorts quadriculados com o parte do uniforme!??/!

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Por onde andou seu coração?