Eu tinha todo o desengonço de uma adolescente de 13 anos, quando foi encenada a peça A Revolta dos Brinquedos. Não perdia um ensaio, tinha uma vontade enorme de estar em cena, mas a vontade foi frustrada pela timidez. O máximo que consegui foi ser contra-regra, movimentando as ondas por onde navegava o barco do soldadinho de chumbo.
Sabia de cor a fala de todos. Esperava o dia em que uma das colegas artistas faltaria e eu seria convidada a substitui-la, mas esse dia não chegou. Irmã Elvira, a freirinha diretora, de olhos azuis como petecas, não soube ver a minha vontade, também em mim a revolta dos brinquedos se instalou.
A recente releitura das crônicas de Lindanor Celina, me deixaram com uma vontade incontrolável de ler e de escrever, principalmente sobre a obra da autora, para perpertuar-lhe a memória.
Foi assim, que ao acordar hoje, antes mesmo de saltar da rede, li três crônicas da série Diário de Paris e Além*, como quem lê a Biblia. Deus que me perdoe a heresia!
Leria apenas uma crônica, mas Lindanor é assim, sempre nos deixa com gosto de quero mais. Fui tomar banho ainda pensando em Lindanor e seus oníricos com o pai morto. E eu, o que sonhei? Já não lembro, mas quase certeza de que também sonhei com papai.
Me veio as palavras do padre ontem, sobre as escolhas e as firmezas de propósito. Meu propósito é não me perder entre o twitter e as crônicas de Lindanor, pois tenho muitos deveres de ofício: artigo para escrever, trabalhos para revisar.
Se deixar me enredar por essa vontade, vou escrever sobre minha cronista favorita, partilhar emoções com tanta gente que o bendido google me fez encontrar e que, de uma forma ou de outra, preservam a memória dela. Ir ao orkut me desculpar por não ter ido à minha comunidade Linda_Lindanor, lançar um tópico sobre os 8 anos de sua morte.
Eu quisera ser duas, três. Eu quisera ser Chica Xavier a atriz que vi de pertinho, quando em Porto Velho esteve numa edição do CineAmazônia. Mas a idéia mais estapafúrdia que me ocorreu, antes que o banho terminasse, foi a de que eu quisera ter o dom de Chico Xavier. Queria ser psicógrafa de cartas de Lindanor para seus amigos que por aqui ainda estão, como os professores Munhoz e o João Carlos Pereira .
No céu em que se encontra, em algum caderno ela certamente já rascunhou, diários e cartas. No céu sim, pois como ela mesma dizia : “... para o inferno é que eu não vou, que Nossa Senhora não deixa!”
*Publicadas originalmente no Jornal A Provinvia do Pará, a partir de setembro de 1988.
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Por onde andou seu coração?