segunda-feira, 7 de março de 2011

Eu quisera ser "Chica Xavier"

    Uma eu, apaixonada por teatro, me encantava com as representações feitas no palco do Ginásio Feminino de Macapá, nos anos 70. Um jogral em que a Profa. Lucimar Brabo Alves nos ensinava o uso do S ou Z, no verbo querer, me ficou na memória: “… eu quisera ser Rui Barbosa”, repetia ela.
     Eu tinha todo o desengonço de uma adolescente de 13 anos, quando foi encenada a peça A Revolta dos Brinquedos. Não perdia um ensaio, tinha uma vontade enorme de estar em cena, mas a vontade foi frustrada pela timidez. O máximo que consegui foi ser contra-regra, movimentando as ondas por onde navegava o barco do soldadinho de chumbo.

     Sabia de cor a fala de todos. Esperava o dia em que uma das colegas artistas faltaria e eu seria convidada a substitui-la, mas esse dia não chegou. Irmã Elvira, a freirinha diretora, de olhos azuis como petecas, não soube ver a minha vontade, também em mim a revolta dos brinquedos se instalou.


A recente releitura das crônicas de Lindanor Celina, me deixaram com uma vontade incontrolável de ler e de escrever, principalmente sobre a obra da autora, para perpertuar-lhe a memória.
Foi assim, que ao acordar hoje, antes mesmo de saltar da rede, li três crônicas da série Diário de Paris e Além*, como quem lê a Biblia. Deus que me perdoe a heresia!

Leria apenas uma crônica, mas Lindanor é assim, sempre nos deixa com gosto de quero mais. Fui tomar banho ainda pensando em Lindanor e seus oníricos com o pai morto. E eu, o que sonhei? Já não lembro, mas quase certeza de que também sonhei com papai.

     Me veio as palavras do padre ontem, sobre as escolhas e as firmezas de propósito. Meu propósito é não me perder entre o twitter e as crônicas de Lindanor, pois tenho muitos deveres de ofício: artigo para escrever, trabalhos para revisar.

     Se deixar me enredar por essa vontade, vou escrever sobre minha cronista favorita, partilhar emoções com tanta gente que o bendido google me fez encontrar  e que, de uma forma ou de outra, preservam a memória dela. Ir ao orkut me desculpar por não ter ido à minha comunidade Linda_Lindanor, lançar um tópico sobre os 8 anos de sua morte.

     Eu quisera ser duas, três. Eu quisera ser Chica Xavier a atriz que vi de pertinho, quando em Porto Velho esteve numa edição do CineAmazônia. Mas a idéia mais estapafúrdia que me ocorreu, antes que o banho terminasse, foi a de que eu quisera ter o dom de Chico Xavier. Queria ser psicógrafa de cartas de Lindanor para seus amigos que por aqui ainda estão, como os professores Munhoz e o João Carlos Pereira .

        No céu em que se encontra, em algum caderno ela certamente já rascunhou, diários e cartas. No céu sim, pois como ela mesma dizia : “... para o inferno é que eu não vou, que Nossa Senhora não deixa!”


*Publicadas originalmente no Jornal A Provinvia do Pará, a partir de setembro de 1988.

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