sábado, 28 de maio de 2011

Nascidos em berço de ouro

A condição de proprietário de terra e o acesso a bens de consumo  foram reconhecidos pelos colonos  como as  grandes mudanças operadas em suas vidas. Tratava-se de avaliar o seu sucesso, muito além da simples sobrevivência biológica. Essa percepção foi reforçada quando os entrevistados manifestam a vontade de poder mostrar aos filhos, as condições que viviam antes de migrar, comparada as condições a eles oferecida:

“ Quando a gente chegou aqui não tinha uma caminha para dormir. Foi muito bom mas também muito difícil . Eu não tinha 30 anos ainda tinha muita esperança, os trensinho que a gente conseguiu, era na picada, não conseguia trazer aqui pra dentro. A gente forrava em cima das talas de coqueiro , com as minhas colchas e lençol. Deus abençoou que , a gente veio em janeiro, em julho já tinha milho, então a gente fazia aquele colchão de palha. Parece um sonho a vida da gente, Deus abençoou que a gente conseguiu tudo. Parece um sonho, porque do jeito que a gente teve aquela escuridão, hoje a gente tem todo o conforto dentro de casa.  Eu falo para as minhas filhas: a gente foi  criado assim no sitio dos outros, trabalhando à meia, e hoje a gente tem o que é da gente, tudo confortável, máquina de lavar, fogão à gás, tudo no jeito. Tudo o conforto que a gente tem, eu falo para elas que elas foram criadas em ‘berço de ouro’ ” . (Depoimento do Sra. M. S. , 58 anos, Lh. 44)

O preço do conforto foi, muitas vezes, pago com prejuízos à saúde. Vencida a malária, da qual não se ouve mais falar, os males advém da labuta trabalhando a terra, “a agricultura é boa, mas acaba com a saúde da gente, não existe rim, não existe coluna, para quem trabalha no sol, mas se a pessoa não sofrer, não possui as coisas”. Para uma mulher a solução é simples: “ao invés de gastar dinheiro com sem-terra, o Governo devia aposentar as mulheres que já sofreram tanto, mais cedo. Depois dos 50 anos é só gasto com remédio, essa tal de menopausa”. 
(Extrato da minha monografia de Mestrado em Extensão Rural, versão completa pode ser baixada aqui: no site da UFViçosa )

Um comentário:

Por onde andou seu coração?