quinta-feira, 10 de março de 2011

Aidimim, Copacabana!

(Com extratos do poema de Rubem Braga , in: "Ai de ti, Copacabana", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 99.)


Conheci Copacabana ainda criança, no final dos anos 60.
Uma imagem da praia de Copacabana com sua famosa calçada serpenteada em primeiro plano, ilustrava o lado A do cartão postal que minha tia Milica (mais tia do @Bonfa2011 do que minha, pra falar a verdade) mandou para a prima Beatriz, que vem a ser a minha mãe.
No lado B, em letrinha miuda e comprida, a tia carregou nas tintas ao pintar seus encantos por Copacabana. Pronto estava instalado em mim o desejo de conhecer a Princesinha do Mar.


“ AI DE TI, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera de teu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as entranhas.”

Depois foi prima Cristina, filha da tia Milica, quem me alimentava o sonho, com cartas endereçadas da Av. Constante Ramos.

“Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras; e deste risadas ébrias e vãs no seio da noite.”

Muitos anos depois (anos 80) , tive oportunidade de passar uma curta temporada morando no Rio de Janeiro. Finalmente Copacabana! Não escolhi, naquele emaranhado de edificios, o endereço não era outro que não a própria Constante Ramos, coladinha ali com a Nossa Senhora de Copacabana, a poucos metros do mar.

“ … Grandes são teus edifícios de cimento, e eles se postam diante do mar qual alta muralha desafiando o mar; mas eles se abaterão...”

Eu adorava passear pelo bairro, olhar as lojas e o povo na praia. Foi numa destas andanças que perdi meu berloque em forma de cachimbo, que trazia pendurado ao pulso. Na vã esperança de achá-lo, frenéticamente, fiz e refiz o caminho, entre o apartamento, a praia e lanchonete onde dei por falta.
  
“ … E os polvos habitarão os teus porões e as negras jamantas as tuas lojas de decorações; e os meros se entocarão em tuas galerias, desde Menescal até Alaska”


Mas uma das coisas que mais me fascinava, não estava nas ruas, mas nas histórias que eu ia criando na minha imaginação ao observar pela janela do apartamento, a vida solitária de moradores (idosos) dos apartamentos vizinhos. As fotografias em porta-retratos sob os móveis das salas  me despertavam a curiosidade de saber, quem seriam, se vivos ainda estavam. E os vivos em suas cadeiras de balanço e cabeça branca, não seriam fantasmas?

“.. Então quem especulará sobre o metro quadrado de teu terreno? Pois na verdade não haverá terreno algum..”.


Outra vez (anos90) um passeio, e uma única foto sob a calçada famosa, porém nunca, um reveillon sobre tuas areias.

[…] Por que rezais em vossos templos, fariseus de Copacabana, e levais flores para Iemanjá no meio da noite? Acaso eu não conheço a multidão de vossos pecados?”

Século XXI, voltei tantas vezes ao Rio de Janeiro. Hóspede da Glória, do Flamengo, da Tijuca e até da Ilha do Governador. Mas, aidemim! nunca mais Copacabana, nunca mais meu berloque de pau-de-angola!

[…] E no Petit Club os siris comerão cabeças de homens fritas na casca; e Sacha, o homem-rã, tocará piano submarino para fantasmas de mulheres silenciosas e verdes, cujos nomes passaram muitos anos nas colunas dos cronistas, no tempo em que havia colunas e havia cronistas.

Um comentário:

  1. Uma indagação jogada ao vento: Trinta anos depois, qual terá sido o destino do berloque? Foi encontrado por alguém e o guardou? Ficou perdido na areia? Foi levado pelo mar?Bjs!!

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