segunda-feira, 28 de março de 2011

Primeiras letras

Eu, aos 3 anos
Eu menina, aprendi a ler no jornal Última Hora. Fui alfabetizada aos quatro anos de idade, numa época em que “escola particular” era a sala de uma residência onde uma abnegada leiga dava aulas de alfabetização e reforço. Estudei na escolinha da D. Elvira, uma negra de olhos claros e fala doce.
Portanto, desde cedo desenvolvi o gosto pela leitura. Em casa não tínhamos nenhuma estante para chamar de biblioteca. Aos finais de semana eu adorava ir “passar o dia”, na casa de minha madrinha, a professora Cesaltina, que morava na Hamilton Silva, próximo ao Estádio Glicério Marques; ou na casa de meu tio Borges, na Leopoldo Machado, no então bairro Jacareacanga.
Ambas as casas tinham o meu lugar preferido, um quarto com uma estante cheia de livros, onde eu mergulhava na leitura das “...mais belas histórias” e me esquecia do mundo. Foi aos 10 anos talvez, quando li "Saudades" de Thales de Andrade, que desenvolvi um fascínio especial pelos livros de memórias.
     Que eu me recorde, os primeiros livros que tivemos em casa foi uma coleção de capa dura vermelha, que mamãe, com muito sacrifício, pagou em dolorosas prestações. Neles li textos que nunca li em nenhum outro lugar, como a crônica em que uma garota interpelava: papai o que é plebiscito?
     Não tínhamos livros, mas a compra de jornal era sagrada como a compra do pão nosso de cada dia. Meu pai me incutiu o gosto por ler jornal. Quando Macapá não tinha seus jornais diários, ele comprava jornais do Rio de Janeiro e de Belém. Foi assim que eu menina, lendo as manchetes sobre o Esquadrão da Morte no Jornal UH, aprendi as primeiras letras, para além do “vovô viu a uva”.
     Esse fato me elevou a condição de atração da casa. Quando chegava uma visita, sempre me pediam para ler o jornal. O carequinha “tio” Álvaro Bonfim, um primo de mamãe, ficou muito admirado e vaticinou que eu seria jornalista.
Lembro também que quando era pré-adolescente, magrela desenxabida, ele costumava dizer que quando eu ficasse moça seria muito bonita. Na primeira ele acertou, quanto a segunda previsão, fica a critério dos olhos de cada um, os meus, vez por outra encontram no espelho uma mulher bonita, muito bonita seria exagero.

2 comentários:

  1. O Patinho Feio se transformou num belo Cisne.

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  2. Eu também aprendi a ler cedo e era atração pra os adultos também hahaha Adoraaaava ser admirada e lia o que pedissem :o) Mas infelizmente ninguém tinha livros pra eu ler e só com 13 anos é que li meu primeiro livro, A cabana do pai Tomás, graças ao padre belga de Juçaral. Depois ninguém me segurou mais :o)

    Eu não sei se já foi Patinho Feio, como diz Zany, mas é Cisne, isso você é ! Agora me veio até uma lembrança do nosso passeio entre mulheres, lá em Paris kkkkk

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Por onde andou seu coração?