terça-feira, 24 de maio de 2011

A Menina e as Árvores


                Da infância, em Macapá no Amapá, a menina guardou a lembrança de um quintal cheio de árvores: abacateiro, mamoeiro, cajueiro, gravioleira e uma pitombeira que nunca deu frutos. A goiabeira dava frutos enormes, talvez porque suas raízes eram forçosamente “adubadas” pelo esterco das galinhas que nela se empoleiravam.
     Grandes e gostosas, as goiabas eram disputadas pelos irmãos, porque - como as maças das histórias em quadrinhos - serviam de agrado à professora do primário.
Irmãos, primos e vizinhos no quintal - Macapá anos 60
     Coqueiros eram oito, o pai plantava um para cada filho que nascia.  Nas tardes calorentas, depois das brincadeiras, pira-esconde, queimada, macaca; a criançada ia à colheita dos frutos do dote de nascimento. O coqueiro anão, destinado ao caçula, era o que dava a água mais saborosa. O pequeno, empreendedor, decidiu: quem quisesse desfrutar das delicias dessa boa-sorte, tinha que se submeter a sua “exploração capitalista”. A moeda devia ser cruzeiro velho, já não dá para lembrar quanto custava o prazer de tomar uma água de coco e depois raspar o mesocarpo, que chamavam de lambujem. A menina ganhou com isso uma destreza em abrir coco verde no terçado ou coco seco na ponta da enxada, que chega a causar admiração a quem só conhece o seu lado urbe.
            Tudo se foi com a construção da casa nova. Para repor o pomar perdido, o pai plantou na frente da casa dois pés de jambo. No quintal só sobrou espaço para uma gravioleira, da qual a mãe faz questão de guardar a polpa, esperando-a  a cada férias em Macapá, quando então, os agora frondosos jambeiros permitem, atar sob eles uma rede e curtir a brisa mansa que sopra do rio Amazonas, que banha a cidade.

O bar, o Gol e o jambeiros: heranças que papai deixou. 2011
               Longe de casa, longe das árvores no cotidiano. Árvores e ela: encontros breves e solenes. Quando estagiária da extinta Fundação Projeto Rondon, a menina, agora uma jovem estudante universitária, foi designada para proceder ao plantio de uma muda de pau-brasil (Caesalpinia echinata), na Embrapa - Amazônia Oriental, em Belém. Tratava-se de uma campanha de uma instituição de Pernambuco, visando à preservação da espécie. Depois disso, trabalhando em uma empresa de processamento de dados: computadores, listagens, e....  árvores! Como? Ela promovia eventos de relações públicas com os empregados, plantavam árvores em comemoração ao 21 de março.
            Nas voltas que o mundo dá, dez anos depois, lá estava ela de volta à Embrapa, desta vez como empregada, em Rondônia. Foi nessa fronteira de colonização, que viu árvores tombar, queimar ou resistir, como a solitária castanheira na entrada de Machadinho do Oeste. Mas foi também no contato com o homem do campo, que mais uma vez ela esteve envolvida em um solene plantio de árvore. Agradecidos pelo apoio que dele sempre receberam, pequenos produtores rurais tomaram a iniciativa de homenagear, com o plantio de um ipê amarelo, a memória do pesquisador da Embrapa, Paulo Manoel Pinto Alves. (Falecido em 12/12/1996, ocupando o cargo de Chefe Geral da Embrapa Rondônia.)
       Como colega de trabalho e, em particular, como amiga do homenageado e de sua família, a menina, agora mulher, participou do evento. Diante de uma cova viu, semelhante a um sepultamento. serem enterradas as raízes de uma muda de ipê, jogada a terra o ato foi encerrado com uma salva de palmas. Assim é a caminhada da vida: se planta e se colhe os frutos dos nossos atos, até o dia em que as raízes da árvore da vida serão sepultadas, porém, as sementes espalhadas, terão germinado e feito crescer belas e frondosas árvores, que por sua vez terão fornecido bons ou maus frutos, simbolizando, alimento, fonte de energia, continuação da vida com árvores para as gerações futuras.
Eu, com papai e  a sobrinha Flávia Beatriz
A menina, herdeira do coqueiro número dois, é pesquisadora da Embrapa em Rondônia, desde 1989.  

3 comentários:

  1. Que vida rica.Só tive essa oportunidade eventualmente quando ia de férias a Teresina na casa de minha avó materna.Sou apaixonada pelo ipê e nem sei o porquê.Gosto de todas as árvores mas o ipê amarelo me lembra algo de muito bom que não sei explicar.

    ResponderExcluir
  2. Puxa mana, quantas lembranças! No que sobrou do quintal ainda resta um coqueiro, que já produziu e ainda continua produzindo muito. No pequeno horto-herança-do-papai tem: 2 pés de noni, 1 limoeiro, algumas bananeiras, 1 pé de cubiu,1 pé de cupuaçu, 1 mamoeiro, 2 pimenteiras, várias mudas de noni, de cupuaçu, de babosa. Ah, ainda tem um pé de cana-ficha e de anador, que eu uso pra chá quando sinto infecção urinária.

    ResponderExcluir
  3. Na foto em P&B : as meninas vestidas de 1a. Comunhão são: eu , Zany e Virgiliana , a Vigica, que foi babá dos menores. Também, estão na foto as primas Augusta e Dina, o primo Eden , as vizinhas, Ana Alice e Ana Sueli!

    ResponderExcluir

Por onde andou seu coração?